terça-feira, março 13, 2012

Sinagoga de Lisboa

As comunidades judaicas de Lisboa reuniam-se, desde pelo menos o século XIII nas duas sinagogas da Judiaria Grande (situada à beira do esteiro da Baixa e Ribeira do Tejo, entre as freguesias da Madalena, e S. Nicolau) e outras já existentes no século XIV na Judiaria Nova, ou das Taracenas, e na Judiaria Pequena em Alfama. Em 1497 foram extintas as sinagogas e desmanteladas outras estruturas sociais pertencentes aos judeus lisboetas cujo património foi entregue a instituições eclesiásticas e de assistência. Desde então até aos inícios do século XIX não existiu em Portugal culto oficial judaico.
Abolida a inquisição em 1821, só em meados desse século voltaram timidamente a funcionar em Lisboa algumas sinagogas, em simples apartamentos de habitação, a última das quais no Beco das Linheiras. Deste local foram trasladados solenemente para a Sinagoga Nova, em 1904, os rolos da "Thorá", o Livro das Sagradas Escrituras.
Em 1897, é criada em Lisboa uma comissão para a edificação de uma sinagoga, coincidindo este acto com a eleição do 1.º Comité da Comunidade Israelita de Lisboa, cujo Presidente Honorário era Abraham Bensaúde e o Presidente Efectivo, Simão Anahory.
O projecto da Sinagoga de Lisboa foi da autoria de um dos maiores notáveis arquitectos da época, Miguel Ventura Terra.
                                   
O edifício teve de ser construído dentro de um quintal muralhado, dado que não era permitida a construção de qualquer templo não católico com fachada para a via pública. Situado na Rua Alexandre Herculano, nos antigos terrenos de Valle de Pedreiro, junto ao Rato, foi lançada a primeira pedra em 1902. A Sinagoga “Shaaré-Tikvá” (Portas da Esperança) foi inaugurada em 18 de Maio de 1904.
                         Primeira pedra em 1902                                    Cerimónia do lançamento da primeira pedra                                                 
   
                                                                      Sinagoga em 1904
                            
A nova Sinagoga, para substituir a antiga no Beco dos Apóstolos, foi mandada construir por uma comissão nomeada pela colónia israelita de Lisboa, representada por Leão Amzalak, e feita por subscrição aberta entre a mesma colónia. Foi projectada para comportar 400 homens no pavimento principal e 200 senhoras nas galerias do pavimento superior.
Além do templo, propriamente dito, contem sala para casamentos, de espera, para reuniões, vestiários, habitação completa do rabi e outras dependências.
                                                            A Sinagoga de Lisboa nos anos 50
                                            

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital
Existem diferentes tipos de sinagogas, mas todas estão subordinadas a algumas regras:
– Nenhuma sinagoga pode ultrapassar o Templo em grandeza e beleza.
– Nas sinagogas de rito ortodoxo existe uma separação (‘mehitsa’) entre homens e mulheres que pode tomar a forma de um balcão próprio ou de um pequeno muro.
– As sinagogas têm de estar viradas para leste, ou seja, para Jerusalém, nomeadamente a Arca Sagrada que contém os rolos da Tora.
– É totalmente proibido qualquer tipo de imagens humanas. A decoração é feita através dos símbolos da vida judaica: a Estrela de David, o candelabro («menorah»), o próprio “chofar” (chifre de carneiro utilizado em Rosh-Hashaná e Kipur, cujo toque invoca a misericórdia de Deus, lembrando o sacrifício de Isaac).
                                                   Interior da Sinagoga de Lisboa, actualmente
                                            
Sinagoga de Lisboa.6

Em 2006 evocaram-se os 500 anos do massacre de judeus em Lisboa. Reza a história que entre os dias 19 e 21 de Abril de 1506, quatro mil judeus foram perseguidos, mutilados e queimados vivos na capital, o chamado ‘pogrom’ de Lisboa.

Damião de Góis, Garcia de Resende e Alexandre Herculano foram algumas das vozes que relataram esse massacre de quatro mil judeus, em 1506. Na Igreja de São Domingos, na Baixa lisboeta, alguém gritou ter visto o rosto de Cristo iluminar-se no altar. A fé cegou os populares, que rejeitaram a explicação, dada por um judeu convertido, de que era um reflexo do sol. O ‘blasfemo’ foi arrastado, com o irmão, até ao Rossio, onde ambos foram espancados até à morte. Seguiram-se três dias de perseguições, violações e morte. As vítimas foram homens, mulheres e crianças, todos judeus. Frades dominicanos terão incitado a populaça que repetiu à exaustão: «Morte aos Judeus, morte aos hereges!»

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