A paixão socialista
pelo ensino foi um sucesso. Não devíamos desfazer esse bom trabalho com novas
reformas
O erro da educação
No final da primeira década do século XXI, os debates sobre a educação em
Portugal eram dominados por três argumentos. Primeiro, que os programas e
orientações pedagógicos encorajavam o facilitismo produzindo resultados
medíocres das crianças nos testes internacionais. Segundo, que os programas de
educação para adultos, as Novas Oportunidades, eram uma farsa. Terceiro, que o
Parque Escolar tinha sido um desperdício de dinheiro, sendo inclusive acusado de
usos indevidos de fundos públicos. Estes programas eram justamente atribuídos à
ação do PS, mas para lá das mentiras políticas, esta avaliação crítica assentava
em bons e fortes argumentos.
Três anos depois, o que dizem os factos? O que era só uma impressão nos
testes de 2009 é hoje rebatido com os dados de 2012: Portugal tem melhorado
consistentemente nos resultados dos testes internacionais PISA. Em vez de
facilitismo, vemos antes os alunos portugueses a ultrapassar os suecos.
Sobretudo em matemática, Portugal é dos países da OCDE que mais progressos teve
quer na média quer nos alunos mais fracos quer na produção de pequenos génios.
De acordo com a OCDE, assim que se toma em consideração que tantos jovens
portugueses vivem em casas com poucos livros e têm pais com pouca educação,
Portugal está no top 10 dos países desenvolvidos.
Olhando para as Novas Oportunidades, Portugal só pode ultrapassar o seu atraso de décadas nos anos de escolaridade se investir na educação dos adultos. Entre 2000 e 2010, a percentagem de alunos com mais de 25 anos que tem escolarização secundária completa subiu de 8,6% para 13%, o maior aumento dos últimos 50 anos. Isto não se deve só à expansão do ensino obrigatório para os mais novos: olhando para quem tem entre 50 e 54 anos, a percentagem salta dos 5,5% para os 9,6%.
Já quanto ao Parque Escolar, o que ficou de várias avaliações do Tribunal de Contas e do Ministério das Finanças foram elogios à gestão. Os relatórios identificam alguns desperdícios, logo empolados na televisão. Mas, em comparação com o que normalmente se lê nos relatórios de consultadorias a empresas privadas, a empresa Parque Escolar sai definitivamente muito bem.
A pedagogia é um campo de conhecimento muito frágil, onde temos poucas certezas sobre aquilo que realmente funciona na aprendizagem de conhecimentos. Tão importante como os méritos de uma abordagem teórica, ou dos argumentos convincentes, é a capacidade de adaptação no terreno, conforme os resultados vão chegando aos poucos. A educação em Portugal tem muitos problemas a resolver, sobretudo com a pouca exigência, a falta de disciplina na escola e a desmotivação dos professores. Mas agora que parece mais claro que a paixão socialista pelo ensino foi um sucesso, ainda vamos a tempo de parar de desmantelar os seus programas e antes tentar melhorá-los sem destruir as suas virtudes. Senão, continuaremos no erro trágico da educação do nosso país: reformar constantemente deitando a perder as conquistas dos antecessores.
Professor de Economia na Universidade de Columbia, Nova Iorque
Escreve ao sábado
Olhando para as Novas Oportunidades, Portugal só pode ultrapassar o seu atraso de décadas nos anos de escolaridade se investir na educação dos adultos. Entre 2000 e 2010, a percentagem de alunos com mais de 25 anos que tem escolarização secundária completa subiu de 8,6% para 13%, o maior aumento dos últimos 50 anos. Isto não se deve só à expansão do ensino obrigatório para os mais novos: olhando para quem tem entre 50 e 54 anos, a percentagem salta dos 5,5% para os 9,6%.
Já quanto ao Parque Escolar, o que ficou de várias avaliações do Tribunal de Contas e do Ministério das Finanças foram elogios à gestão. Os relatórios identificam alguns desperdícios, logo empolados na televisão. Mas, em comparação com o que normalmente se lê nos relatórios de consultadorias a empresas privadas, a empresa Parque Escolar sai definitivamente muito bem.
A pedagogia é um campo de conhecimento muito frágil, onde temos poucas certezas sobre aquilo que realmente funciona na aprendizagem de conhecimentos. Tão importante como os méritos de uma abordagem teórica, ou dos argumentos convincentes, é a capacidade de adaptação no terreno, conforme os resultados vão chegando aos poucos. A educação em Portugal tem muitos problemas a resolver, sobretudo com a pouca exigência, a falta de disciplina na escola e a desmotivação dos professores. Mas agora que parece mais claro que a paixão socialista pelo ensino foi um sucesso, ainda vamos a tempo de parar de desmantelar os seus programas e antes tentar melhorá-los sem destruir as suas virtudes. Senão, continuaremos no erro trágico da educação do nosso país: reformar constantemente deitando a perder as conquistas dos antecessores.
Professor de Economia na Universidade de Columbia, Nova Iorque
Escreve ao sábado
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